GERAL
Finados: como as religiões encaram a morte?
   
Cada pessoa busca uma explicação para o fim da vida e as religiões tratam isso de maneiras diferentes

Por Renee Rodrigues
01/11/2021 10h47

Para muitos, 02 de novembro é um dia de tristeza. Para outros um dia como outro qualquer. E ainda tem aqueles que veêm o Dia de Finados como um momento para comemorar. Independente de cada religião ou prática espiritual, a questão em comum no Dia de Finados é como o homem encara a morte. Cada pessoa busca uma explicação para o fim da vida.
Todas as religiões oferecem às pessoas uma esperança de que a vida não termina. A reportagem do Novo Tempo conversou com representantes de algumas religiões, e mostra aqui como cada uma delas lida com a morte e como celebram, ou não, o Dia de Finados.

Católicos

Para falar sobre a visão do catolicismo, a reportagem conversou com o pároco de Tapejara, padre Carlos Jaroceski.
Novo Tempo – Como surgiu e o que significa o Dia de Finados?
Padre Carlos
– O Dia de Finados foi uma data estabelecida, desde as primeiras comunidades cristãs, para homenagear aqueles que morriam perseguidos pelo Império Romano. Então foi designado um dia para recordar os antepassados e, principalmente, reconhecer que estas pessoas não permanecem na morte, que existe vida após esta. Revivemos o luto com a esperança da ressurreição. Visitar as sepulturas no cemitério é uma simbologia que nos permite a reflexão da vida que levamos aqui na terra. 
Novo Tempo – Que tipo de homenagens as pessoas devem fazer àqueles que já partiram?
Padre Carlos
– Na questão humana, a homenagem é recordar o que de bom aconteceu com as pessoas que fizeram parte da nossa história. Na dimensão espiritual, devemos colocar a vida das pessoas que já faleceram, nas mãos de Deus, permitindo que vivam em paz. Também devemos reconhecer que temos uma finitude aqui na terra, um tempo de vida, um tempo para construirmos nossa história. Um dia, teremos que entregar a nossa vida àquele que nos criou.
Novo Tempo – Pode-se dizer que a Igreja Católica também espera que exista vida após a morte? 
Padre Carlos – Esta é a essência da nossa fé cristã. Se Cristo não tivesse ressuscitado e se nós não ressuscitássemos após a morte, em vão seria a nossa fé. A ressurreição é a plenitude da vida junto do Pai.
Novo Tempo – Mesmo aqueles que são chamados de pecadores?
Padre Carlos
– Quando Jesus esteve na terra, foi criticado porque esteve na casa dos pecadores. E ao ser questionado pelos fariseus, disse: “Eu vim não para aqueles que já são santos, mas para os pecadores”. Essa é a missão dos cristãos: resgatar os pecadores, para que encontrem a plenitude em Cristo. 
Novo Tempo – Passamos por uma pandemia mundial, que vitimou muitas pessoas. O que falar sobre a morte quando há muitas mortes?
Padre Carlos
– Os meios de comunicação, normalmente, publicam números, relatando as mortes. Nós, cristãos, não devemos encarar estas mortes como números, são pessoas que deixam famílias, amigos. O meu sentimento maior, como padre, durante esta pandemia, foi quando eu era chamado para estar no cemitério porque o corpo precisava ser enterrado logo, sem despedida dos familiares. Muitas famílias não conseguiram vivenciar esta etapa do luto, o que tornou a superação muito mais dolorosa.
Novo Tempo – Qual a sua mensagem para as pessoas que estão de luto ou relembrando seus entes queridos, neste período de Finados?
Padre Carlos
– Em primeiro lugar: confie que todas as pessoas que acreditaram na presença de Deus na sua vida, não permanecem na morte. Nós precisamos seguir em frente, construir nossa história e não desanimar com a partida de alguém. No Dia de Finados vamos visitar as sepulturas e refletir sobre a importância da vida  que levamos aqui, porque é isso que determina nossa plenitude com Deus.

 

Evangélicos

Para falar sobre a visão dos evangélicos, a reportagem conversou com o pastor quadrangular Celso Martins.
Novo Tempo – É certo dizer que a morte ainda é um tabu?
Pastor Celso –
Embora deveríamos tratar a morte como algo natural, para muitas pessoas ainda é um tabu. Cada crença tem sua base, a nossa é a Bíblia Sagrada. A Palavra de Deus nos prepara para a morte, para entender que não estaremos aqui para sempre. Em Hebreus (9:27) consta que: está destinado ao homem morrer uma só vez. Assim, cai por terra algumas crenças de que as pessoas morrem e voltam em outras vidas. 
Novo Tempo – Como o Evangelho explica a eternidade?
Pastor Celso
– Entendemos que a nossa vida não se limita aos anos que vivemos aqui na terra. Ela não acaba dentro de um caixão, porque nosso corpo é mortal e nossa alma imortal. A Palavra de Deus nos confirma, do início ao final, que um dia prestaremos contas de tudo que fizemos em vida. Há muitas discordâncias, nas diferentes crenças, sobre a oração pelos mortos e o uso de velas. Não existe embasamento bíblico para isso. Não há oração ou vela capaz de nos salvar, o que vale mesmo é a vida que levamos aqui na terra. 
Novo Tempo – Conhecer a vida de Jesus é a base para entender a morte?
Pastor Celso
– Sim, saber como Jesus viveu e como encarou a morte é fundamental para que entendamos o nosso propósito aqui e a nossa passagem para a eternidade. Nossa missão como igreja é se parecer com Jesus. 
Novo Tempo – Os evangélicos celebram o Dia de Finados?
Pastor Celso
– Nós não achamos que seja errado ir ao cemitério sempre que sentirmos saudades de nossos entes queridos, seja qual for o dia. Devemos guardar as lembranças boas das pessoas que partiram. Porém, a Bíblia nos ensina que não há nada que possa se fazer pela pessoa que já morreu. Embora algumas religiões acreditam no Purgatório (local de passagem onde ficam as almas cujos pecados precisam ser purificados), e que se houver muitas orações por essas almas, elas serão salvas, nós não acreditamos que haja este local entre o céu e o inferno, porque ele não é relatado na Bíblia.
Novo Tempo – Como deve ser vivenciado o luto?
Pastor Celso
– Devemos respeitar o momento de tristeza e saudade, sabendo que cada pessoa passará por isso de uma forma diferente e por períodos de tempo diferentes. Mas esse é o momento que devemos usar para refletir também, para entender que estamos aqui para fazer o bem, levar uma vida semelhante à vida de Jesus para que nossa alma seja salva.

 

Espíritas

Conversamos com a dirigente do Centro Espírita Ramatis, Patrícia Scariot.
Novo Tempo – Como o espiritismo vê o Dia de Finados?
Patrícia
– Para nós, o Dia de Finados é uma comemoração aos nossos antepassados. Entendemos que nosso espírito não nasceu no momento da concepção, ele pré-existia e, no decorrer de tantas vivências, habitamos no nosso corpo atual. A despedida daqui é uma volta à casa, à nossa pátria espiritual, de onde viemos no momento do nascimento, pois entendemos que depois da morte passamos um período da erraticidade, nos preparando para voltar. A vida continua lá do outro lado, com tarefas parecidas com as que desempenhamos aqui, colhendo o fruto do que plantamos.
Novo Tempo – Dá para se dizer que existe uma diferença entre o corpo físico e o espírito?
Patrícia
– Nós entendemos que sim. O corpo físico é um instrumento que nos possibilita agir desta dimensão terrena. Hoje eu estou Patrícia, mas em outras vidas posso ter sido Pedro, João, Maria... Essas existências todas foram construindo o ser espiritual que eu sou hoje.
Novo Tempo – O espírito encontra o físico por uma missão?
Patrícia
– O nosso entendimento é que sim, cada um tem a sua caminhada, que é solitária. Temos quem nos ampara, nossos familiares, nossos amigos, mas a nossa evolução é individual. Toda essa aprendizagem fica gravada no nosso espírito.
Novo Tempo – Como os espíritas entendem estes tempos de pandemia, onde muitos espíritos desencarnaram?
Patrícia
– Nós entendemos que ninguém vai antes do tempo. Partiu quem deveria ter partido. Era o tempo. Diferente das pessoas que causam a própria morte, como é o caso de suicídio ou imprudências (exemplo: pessoa que bebe, dirige, causa um acidente e morre), que acabam abreviando o seu tempo na vida terrena. O tempo aqui é relativo para cada pessoa, mas só parte quem deve partir, pois Deus não permitiria que a gente partisse antes da nossa hora. A gente vem para a terra com uma estrada pré-definida, nossas escolhas possibilitam cumprir o caminho ou abreviá-lo.
Novo Tempo – Na sua visão, como deve ser vivenciado o luto? 
Patrícia
– É uma dor que as pessoas precisam viver. Ninguém pode viver pelo outro. Precisamos entender que o nosso ente querido partiu porque era sua hora e a nossa existência terrena continua. Vivenciar o luto é importante e buscar meios para que este período não seja tão pesado, é válido. Também recomendamos que, ao perder um familiar ou amigo, as pessoas mandem boas vibrações e não fiquem questionando ou lamentando a morte, pois o espírito sente esta energia.

   

  

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