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Dia de Finados: reflexões sobre a morte e o significado da vida |
Nesta data, homenageamos aqueles que já partiram |
No Dia de Finados, 2 de novembro, as famílias reúnem-se em visitas aos cemitérios, levando flores, acendendo velas, lembrando a memória dos entes queridos que já partiram. Este dia, marcado pelo respeito e pela saudade, vai além da tristeza. A data carrega um sentido de reflexão sobre a vida e a morte e, para muitos, é uma oportunidade de pensar sobre o que nos espera além da existência terrena. Para explorar a profundidade deste dia, o Jornal Novo Tempo ouviu diferentes cultos religiosos, que trouxeram suas perspectivas.
A Visão Cristã Evangélica
O pastor Celso Martins, da Igreja do Evangelho Quadrangular, no Bairro São Paulo, propõe uma reflexão direta sobre a vida e a salvação. Para ele, o Dia de Finados é um chamado para aqueles que ainda têm a chance de se reconectar com o propósito da vida, segundo os ensinamentos cristãos. “Podemos lembrar os que já partiram, mas precisamos reconhecer que a oportunidade de se decidir por Cristo está aqui e agora, enquanto estamos vivos. O que vale para o homem não é acumular riquezas, mas cuidar da sua alma”, destaca o pastor, citando a passagem bíblica: “Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Marcos 8:36).
O pastor reforça que, conforme a doutrina evangélica, não se deve orar pelos mortos. “A intercessão dos que ficam não altera o destino dos que já se foram”, afirma, citando Hebreus 9:27: “Aos homens está ordenado morrer uma só vez, vindo depois disso o juízo!”. Para ele, a morte é uma vírgula, não um ponto final, e os fiéis devem viver em comunhão com Deus para que a morte seja uma passagem para a eternidade ao lado de Cristo.
A Perspectiva Católica
O padre Nelson Tonello, da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Passo Fundo, trouxe a visão católica sobre a data, enfatizando o respeito e a importância de se lembrar dos entes queridos. Segundo ele, a tradição católica vê o Dia de Finados como uma data para homenagear e reforçar os laços com aqueles que nos precederam. “É uma data para cultivar o amor e a fé, ao acender uma vela, ao levar uma flor. Essas são expressões de carinho que não devem morrer jamais, pois reforçam nossos laços e a nossa própria identidade”, afirma o padre.
Padre Nelson também mencionou a visão do “cemitério” como um “dormitório” na tradição grega, um lugar sagrado onde os corpos descansam enquanto aguardam o momento da ressurreição. Para ele, a morte é a passagem para a eternidade, um encontro com o mistério e a fé de que a vida continua em outra dimensão. “Na casa de meu Pai há muitas moradas” (João 14:1-4), lembra o padre, reafirmando a esperança de um encontro eterno com Deus.
A Visão Espírita
Andréia dos Reis, coordenadora doutrinária do Grupo Espírita Bezerra de Menezes, explica que, para os espíritas, o Dia de Finados é uma oportunidade de enviar boas vibrações aos que já partiram, fundamentando-se na crença da imortalidade da alma e na continuidade do aprendizado no plano espiritual. “Para nós, o Dia de Finados não é um dia de luto, mas de comunhão espiritual. Nossas preces e bons pensamentos podem auxiliar os espíritos que ainda estão em adaptação ao novo plano de existência”, diz Andréia.
O Espiritismo, como doutrina codificada por Allan Kardec, vê a morte como um processo de transição e evolução para o plano espiritual. Para os espíritas, o espírito continua sua trajetória de crescimento e aprendizado, em uma continuidade que se desdobra ao longo de diversas encarnações. “A vida na Terra é temporária, e o amor que sentimos pelos que se foram permanece, reforçando que a separação é apenas física”, explica Andréia. Nesse contexto, o Dia de Finados é uma data de reflexão e gratidão, onde a fé se alia ao consolo de que a morte é apenas uma passagem.
Um Olhar de Reflexão
O Dia de Finados é, portanto, um convite para que as pessoas reflitam sobre a efemeridade da vida e a importância de construir um caminho que transcenda a existência terrena. As palavras do pastor, do padre e da coordenadora espírita nos lembram que, embora cada doutrina traga uma abordagem única, todas concordam com a necessidade de buscar um propósito e uma paz espiritual que permitam encarar a morte não como um fim, mas como um novo começo.
Cada tradição oferece diferentes caminhos para lidar com a morte, mas todas destacam a importância de um viver em paz e harmonia com a fé, com o próximo e com a própria consciência. Finados, assim, se torna um dia não só de luto, mas de reencontro com as nossas crenças, de renovação das promessas de vida eterna e de esperança em uma continuidade que vai além do que se vê.